O feijão-tropeiro é um famoso prato típico da comida mineira; era feito pelos cozinheiros das tropas que se encarregavam de levar o gado.
Desde o período colonial, o transporte das mais diversas mercadorias era feito por tropas a cavalo ou em lombos de burros. Os homens que guiavam esses animais eram chamados tropeiros. Até a metade do século 20, eles “cortaram” boa parte do estado de Minas Gerais conduzindo gado.
Além de seu importante papel na economia, o tropeiro teve importância cultural relevante como veiculador de ideias e notícias entre as aldeias e comunidades distantes entre sí, numa época em que não existiam estradas no Brasil.
As dificuldades apresentadas durante os trajetos, somando-se à necessidade de paradas para descanso dos animais e dos próprios condutores, obrigaram que se estabelecessem ranchos para abrigo da tropa ao final de cada dia de jornada, cuja distância percorrida variava entre 18 e 25 quilômetros. Esses ranchos, em muitos casos, eram construídos pelos fazendeiros para que os tropeiros que transportavam seus produtos pudessem descansar e seguir viagem na madrugada seguinte.
Depois de estabelecidos os ranchos, os fazendeiros não tardavam em erguer uma capela, símbolo de sua devoção, em seguida instalava-se uma pequena venda para suprir as necessidades básicas dos tropeiros e viajantes em geral que por ali trafegassem. Depois, algumas famílias fixavam moradia no entorno e estava dado o ponto de partida para o estabelecimento de mais uma vila no interior do país.
Muitas das pequenas vilas de outrora constituíram prósperas cidades como Campinas e Jundiaí em São Paulo e Pouso Alegre em Minas Gerais (ALMEIDA, 1981).
A força da palavra – Ditos de tropeiros que se tornaram populares:
Dar com os burros n’água: significa que algo deu errado – perder um negócio ou fazer asneira
Quando um burro fala o outro murcha a orelha: semelhante a “quando um fala o outro se cala”
Picar a mula: ir embora. Quando o tropeiro voltava para casa, costumava vender os muares em lotes, “picando”, então, a tropa
Cor de burro fugido: aquilo que não tem cor
Teimoso feito uma mula: os muares conhecem bem o chão onde pisam, então se o caminho está perigoso empacam, ou seja, não seguem
Jeitinho tropeiro
As resistentes mulas chegavam a custar 40 vezes mais que uma vaca, que era fonte de alimento. A inflação vinha da dificuldade em “produzir” mulas, pois para que um burro cruzasse com uma égua era necessário colocar nele a pele de um potro. Só assim o burro se enchia de coragem e cobria a égua – e a fêmea o aceitava.
Bebidas quentes
Depois das refeições, os tropeiros costumavam bater papo tomando cachaça. Pelas manhãs, o café tropeiro – com o pó no fundo, sem coar – e um golinho de pinga eram sagrados. “Eles acreditavam que a aguardente limpava o organismo para a viagem. Além disso, a bebida era usada para desinfetar feridas”, afirma Moacyr Flores, historiador da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul.
O berrante anunciava sua chegada e o cururu embalava as noites bucólicas ao luar quando, ao redor do fogo aquecia o corpo e o coração saudoso da terra natal e dos amores deixados para trás.
Rango gorduroso
Para aguentar as longas viagens, que às vezes levavam meses, as comidas das tropas deviam ser secas e duráveis. Outra característica era o uso abundante de gordura para garantir a energia dos viajantes. Feijão, toucinho, torresmo, carne-seca, paçoca e farinha de mandioca e de milho eram os principais alimentos. O cozinheiro geralmente chegava antes dos outros nas paradas para ir preparando o rango.O feijão misturado à farinha de mandioca, torresmo, lingüiça, ovos, alho, cebola e tempero, tornou-se um prato básico do cardápio desses homens. Daí a origem do nome feijão-tropeiro, numa referência direta aos integrantes das tropas.
Receita Típica – Feijão Tropeiro500 g de feijão carioca ou roxinho
200 g de farinha de mandioca
200 g de toucinho de porco ou bacon
1 concha de gordura de porco
1 colher de sal de alho
1 cebola média em cubinhos
5 ovos
Cheiro verde a gosto
Pimenta e tempero a gosto
Modo de preparar
Coloque a gordura ou óleo numa panela quente e acrescente os ovos inteiros, desligando o fogo em seguida para que cozinhe bem lentamente. Solte os ovos aos poucos para que as gemas cozinhem ligeiramente. Na mesma panela colocar o alho e fritar até ficar dourado. Quando dourar junte a cebola (roxa, de preferência). Em outra panela, fritar o bacon picado em fogo baixo. Depois da cebola, coloque no refogado o pimentão e o tempero caseiro. Junte o feijão já cozido, mas não desmanchando. Prove o sal, abaixe o fogo e junte a farinha de mandioca torrada sobre o refogado de feijão, até que fique uma farofa não muito seca. Salpique bastante cheiro verde. Misture o ovo em pedaços e o bacon frito. Na panela em que fritou o bacon, refogue a couve crua picada fina com o tempero caseiro. Decore o prato com pedaços de lingüiça assada e torresmo.
Saiba mais
Livro: Tropeirismo no Brasil, Moacyr Flores Editora Nova Dimensão, 1998
http://tropeirosdoparaitinga.blogspot.com/
https://www.portaldorancho.com.br/
http://www.tropeirosdasgerais.com.br/