No censo realizado de 1831 já se falavam de fabricantes de violas em Vila de Queluz, mas foi no inicio do século 20 que foi o auge das violas em Queluz de Minas.Em 1881 Suas Majestades Imperiais quando transitaram pela cidade, foram alvos de festiva recepção e entre as homenagens constou uma seresta. Os dois mais famosos violeiros de Queluz, Luiz Dias de Souza e José de Souza Salgado executaram algumas peças de seu repertório para os ilustres visitantes; (José de Souza Salgado, até então, desconhecia que era um inspirado músico e que brindara com sua arte, ao Imperador e à ilustre comitiva no que ele mesmo fabricara, provavelmente, sensibilizando os dignos visitantes).
Disse Dom Pedro II:
“Apareceu o violeiro – fazem –se aqui muitas violas – a que veio tinha
caixa de pinho e braço de jacarandá, sendo os embutidos de cabiúna.
O rapaz tocou bem viola e melhor violão também feito aqui”.
As violas de Queluz são conhecidíssimas em todo estado de Minas Gerais e fora dele. Os seus fabricantes, através dos anos e anos de trabalho, todo ele feito com ferramentas e técnicas primitivas, chegaram à máxima perfeição na feitura dos instrumentos. As violas chegaram a ser vendidas em diversas exposições nacionais e internacionais. Em 1902 ganhou um prêmio de melhor instrumento na Pensilvânia EUA, também foi premiada na exposição nacional do Rio de Janeiro em 1908 e no congresso internacional de folclore no Quarto Centenário de São Paulo em 1954.
A cidade chegou a possuir cerca de 17 fabricantes e os nomes que mais se destacaram foram os das famílias Salgado e Meireles. Francisco Cândido de Meireles, Benjamin Cândido de Meireles, Leôncio Cândido de Meireles, Guilherme Meireles, José Meireles (Juca Ventura), Marcolino Cândido de Meireles, Welignton Nemésio de Meireles, Wanderley Nemésio de Meireles, José de Souza Salgado, Eduardo Braga de Sousa (Salgado), João Braga de Souza (João Salgado).
Entre os famosos fabricantes de violas queluzianas, devemos destacar os Meireles. A família Meireles, uma das mais antigas em Minas, para aqui veio há muitos anos. Os Meireles eram conhecidos como “homens inteligentes, ambiciosos, dados às artes, sempre figuraram em todos os atos da vida queluziana”. Um dos pioneiros da fabricação das violas foi o Benjamin Cândido de Meireles.
“Salgado Velho” como era conhecido José de Souza Salgado, foi o mais famoso. Destacou-se por ter tocado para Dom Pedro II e por ter fabricado instrumentos de excelente qualidade.
A principal fonte de venda das violas de Queluz, era durante o jubileu que se realizava no antigo distrito, hoje cidade de Congonhas. As violas eram colocadas em caixa especiais (estojo de madeira triangular) e para ali seguiam, às centenas. Para o jubileu, convergia gente de diversos estados, atraídos pelos milagres do senhor do Bom Jesus de Congonhas. Estes romeiros, de várias partes do país, levaram em tempos idos, as primeiras violas para suas regiões. Daí ter-se difundido e adquirido a fama as violas de Queluz.
Onde estão as violas de Queluz?
Desapareceram, foram sepultadas, imperceptivelmente pelo tempo, pelo progresso. Quando se deu fé àquilo que era tradição gloriosa da terra já estava riscado.
Os irmãos salgados, Eduardo Braga e João Salgado foram os últimos fabricantes de violas de Queluz até aproximadamente a década de sessenta e os Meireles e até aproximadamente a década de 40.
As violas de queluz eram corpo e espírito. O corpo foi enterrado e só ficou a lembrança dela nos ouvidos.
A história da viola
Por Elisana de Assis
A viola foi introduzida no Brasil já no início da colonização, trazida por colonos e jesuítas portugueses. É instrumento, com cintura mais acentuada e encordoada de maneira diferente, – realmente, menor que o violão, sendo este sucessor à viola.
No século XV e, sobretudo, no século XVI, era largamente difundido em Portugal, sendo considerada o principal instrumento dos jograis e cantares trovadorescos, como revelam alguns relatos desta época.
As violas ‘braguesas, amarantinas, beiroas e campaniças’, que é a mais usada nos dias de hoje, possui cinco ordens de cordas metálicas, apresentando-as em pares. Um outro tipo encontrado nos dias de hoje, mas, em menor quantidade é a viola por nome ‘toeira’, da região de Coimbra e que foi fabricada também aqui no Brasil, esta, arma-se com doze cordas em cinco ordens, sendo que as três primeiras ordens, de baixo para cima, com cordas duplas e as duas últimas, com cordas triplas.
Pode-se constatar que a viola no Brasil, praticamente, manteve a estrutura básica do instrumento português, seguindo o mesmo padrão, com cravelhas de madeira, cavalete trabalhado, e a trasteira, ou regra, – madeira onde se fixam os trastos – no mesmo nível do tampo ou texto sonoro do instrumento. Assim eram as violas brasileiras mais difundidas, encontradas entre os violeiros tradicionais e fabricadas artesanalmente. A maioria possuía apenas dez trastos, mas algumas apresentavam alguns trastos a mais, fixados no próprio tampo. Ainda hoje, há artesãos que as constroem com estas características.
A viola artesanal que alcançou maior fama foi à viola de Queluz – na antiga Queluz de Minas e atual cidade de Conselheiro Lafaiete, em Minas Gerais – produzida ali, onde havia várias oficinas, no final do século passado e início deste. A viola de Queluz seguia o modelo da antiga viola ‘toeira’ de Portugal de doze cordas e posteriormente de dez cordas.
A confecção de violas artesanais foi entrando em declínio à medida que a produção em série começou a disponibilizar, no mercado, violas a preços mais acessíveis.
Houve algumas modificações e, a principal alteração – hoje característica comum à maioria das violas – deu-se na trasteira que passou a alcançar a boca do instrumento, e é colada ao tampo, formando um ressalto. Duas outras modificações significativas se fizeram: no cravelhal, onde as cravelhas de madeiras foram substituídas por tarraxas de metal; e no número de trastos da pestana ao pé do braço, que passou de dez a doze.
A viola no Brasil, além de manter inalteradas as principais características do instrumento Português, preservou seu forte caráter popular. Ainda hoje é instrumento muito difundido – encontrado em todas as regiões brasileiras – e presente em várias de nossas manifestações tradicionais.
A base principal do acervo de Cláudio Alexandrino são as violas modelo Queluz fabricadas em Queluz de Minas, atual Conselheiro Lafaiete ou do mesmo modelo fabricadas em outras cidades de Minas Gerais, como, Baldim, Jaboticatubas, Montes Claros, São Francisco e as fabricadas por fábricas tradicionais, como, Del Vecchio, Tranqüillo Gianini e outras…
Em suas viagens Cláudio Alexandrino além das aquisições das violas, faz trabalhos de pesquisas, recolhendo e resgatando músicas de domínio público, contos e tradições dos antigos violeiros; com isso está se formando como violeiro, criando um repertório bem característico destas viagens.
Afinações de violas mais utilizadas:
Cebolão em E = E B G# B E
Cebolão em D = A D F# A D
Rio Abaixo em G = G D G B D
Natural = A D G B E
Obs: Do quinto para o primeiro par de cima pra baixo.
Significado das fitas:
Amarela = Rei Belchior, ouro
Azul = Nossa Senhora
Branca = Deus, paz
Verde = Rei Gaspar, Mirra
Cor de Rosa = São José
Vermelha = Rei Baltazar, Insenso
Marron = Contra mal olhado
Preta = Pacto com o “coisa ruim”
Pactos:
1: Conta-se que o “coisa ruim” descia o rio abaixo em uma canoa tocando viola e as moças bonitas da cidade ficavam encantadas com os e ponteios e a beleza do “rapaz”e pulavam dentro do rio e eram levadas por “ele”.
2: Conta-se que para ser um grande violeiro a pessoa tem que descobrir em qual cemitério tem um violeiro (o melhor da região) enterrado e ir em sua sepultura na sexta-feira da paixão, à meia-noite, abrir a tampa do túmulo e enfiar as duas mãos dentro e esperar seus dedos serem estalados, assim este passa a ser um grande violeiro.
3: Acredita-se que indo em uma encruzilhada na sexta-feira da paixão, à meia-noite levando uma viola virgem e invocar o “coisa ruim” e derrepente começa à aparecer coisas estranhas: uma porca com vários pintinhos, uma galinha com cachorrinhos…; quando derrepente surge o “cramunhão”, apartir daí a pessoa torna-se um grande violeiro e como garantia de sua nova abilidade entrega-lhe sua alma…
4: Diz os antigos violeiros que pegando em uma cobra coral com o polegar e o indicador das mãos, sendo uma por vez e deixando-a enrolar por seus dedos e depois soltá-la sem que ela o pique, a pessoa a partir daí se torna um grande violeiro…
Obs: O Chocalho ou guizo de cascavél é utilizado até hoje dentro da viola como proteção da mesma e do violeiro contra mal olhado…
Por Cláudio Alexandrino e Elisana de Assis
.